Violência causou fluxo "em massa" de vítimas aos hospitais na Síria
- 12/03/2025
"Os hospitais no oeste da Síria registaram um aumento em massa de pacientes com ferimentos de bala", segundo a organização em comunicado.
A Síria foi atingida por uma vaga de violência na semana passada nas províncias costeiras de Latakia e Tartus, onde a ONU e outras entidades registaram centenas de execuções sumárias por parte de forças governamentais contra civis, a maioria da minoria alauita, à qual pertencia a família do Presidente deposto, Bashar al-Assad.
A coordenadora do projeto MSF no noroeste da Síria, Itta Helland-Hansen, lamentou que os acontecimentos da semana passada tenham ocorrido numa altura em que as instalações da organização foram encerradas "da noite para o dia", devido aos cortes de financiamento na Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAid), implementados pela nova administração de Donald Trump.
A MSF descreveu que o Hospital Universitário de Latakia, o Hospital Nacional de Tartus, o Hospital Nacional de Baniyas e o Hospital Jisr al-Shugur receberam centenas de feridos, muitos deles com ferimentos graves causados ??pela onda de violência sectária.
Na unidade Jisr al-Shugur, que tratou 94 pessoas e recebeu 13 vítimas que não sobreviveram, as equipas da MSF trataram ferimentos de bala e estilhaços, e "muitos dos pacientes que chegaram ao hospital tinham ferimentos traumáticos no abdómen, braços e pernas".
Em Tartus, onde houve 122 internamentos e a organização já está a trabalhar para abrir uma nova unidade de emergência "para prestar apoio adicional, se necessário".
A violência no oeste e centro da Síria dos últimos dias causou a morte de pelo menos 1.383 civis, indicou hoje um novo balanço provisório divulgado pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
"O número de mortos ainda está a ser contabilizado", disse o OSDH, uma organização com sede em Londres que possui uma vasta rede de informadores na Síria e que tem reportado a guerra civil no país.
Os atos de violência opuseram as forças de segurança sírias a grupos fiéis a Assad e são os mais graves desde a chegada ao poder de uma coligação liderada pelo grupo radical islâmico sunita Organização paria a Luibertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, HTS).
As tensões começaram em 06 de março numa aldeia de maioria alauita, ramo religioso xiita, da província de Latakia, na sequência da detenção de uma pessoa procurada pelas forças de segurança.
A situação degenerou rapidamente em confrontos quando homens armados alauitas, que as autoridades descreveram como leais a Assad, abriram fogo contra várias posições ocupadas pelas forças de segurança.
Segundo o OSDH, os civis, na grande maioria alauitas, foram mortos pelas "forças de segurança e grupos afiliados", principalmente nas províncias de Latakia e Tartus.
Numa tentativa de acalmar a situação, a presidência síria anunciou no domingo a formação de uma comissão de inquérito independente sobre "abusos contra civis", com o objetivo de identificar os responsáveis e levá-los à justiça.
O regime de Assad colapsou em 08 de dezembro de 2024, data em que a coligação rebelde liderada pela HTS tomou Damasco e o ex-Presidente sírio fugiu para a Rússia, colocando termo a quase 14 anos de uma devastadora guerra civil.
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