Turquia celebra acordo das forças curdas com Damasco e afasta autonomia
- 15/03/2025
"Sempre aconselhámos o novo Governo sírio a garantir os direitos dos curdos. Sob o regime de Bashar al-Assad, isso infelizmente não aconteceu. Existe agora uma oportunidade histórica", destacou Hakan Fidan, em entrevista ao canal de televisão turco TV 100.
O chefe da diplomacia turca resumiu assim os resultados do seu encontro com o presidente interino sírio, Ahmed al-Chareh, realizado na quinta-feira em Damasco, ao lado do ministro da Defesa turco, Yasar Güler, e do chefe dos serviços secretos turcos, Ibrahim Kalin.
O encontro foi o primeiro contacto direto entre altos funcionários turcos e sírios desde que Al-Chareh assinou na segunda-feira um acordo com Mazlum Abdi, líder das Forças Democráticas Sírias (FDS), dominadas pela milícia curdo-síria YPG.
Fidan celebrou o facto de o acordo não contemplar a autonomia para as regiões curdas do nordeste, algo que Ancara sempre rejeitou.
"Não creio que haja concessões no sentido da autonomia ou da autodeterminação. O Governo sírio não tem essa mentalidade, e não creio que os curdos também tenham pedido nada nesse sentido", apontou Fidan.
O ministro dos Negócios Estrangeiros turco descreveu o conceito de autonomia como "nem moderno nem bom", uma vez que "ninguém se deve sentir como uma minoria".
"Em vez disso, precisam de se sentir como uma parte especial, com oportunidades iguais, de um maior bem-estar", acrescentou.
Fidan insistiu ainda que "os elementos armados de atividade terrorista na região devem ser completamente removidos da equação", referindo-se ao YPG, que Ancara considera terroristas devido aos seus laços com o ilegal Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), um grupo guerrilheiro curdo da Turquia.
"Há questões de segurança que são sensíveis para nós. Especialmente em relação ao YPG, qualquer coisa pode estar na nossa agenda. Se houver um acordo assinado com boa vontade, devemos fazer o que for necessário. Mas pode haver minas ao longo do caminho", sublinhou o ministro dos Negócios Estrangeiros turco.
Al-Chareh foi colocado à frente do país como presidente de transição após a queda de Al-Assad, que fugiu para a Rússia em dezembro, pondo fim a quase um quarto de século à frente do país, depois de ter sucedido, em 2000, ao seu pai, Hafez al-Assad, que liderava a Síria desde 1971.
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